Torcedor acompanha time joseense há nove anos e participa de caravanas para ver as partidas da equipe fora de casa; conheça a história de Marcos Rodolfo de Brito, de 42 anos
Por Danilo Sardinha e Pedro Henrique Elias — São José dos Campos, SP
Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com
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No centro de São José dos Campos, interior de São Paulo, há um ginásio conhecido como "Caldeirão Linneu de Moura". Para entender o apelido, basta entrar no ginásio e sentir a atmosfera que impera por lá em dias de jogos do São José Basketball. Nas arquibancadas bem próximas à quadra, torcedores fazem o local pulsar com coros e cantos. Uma pulsação que contagia e é sentida em sua forma mais pura por Marcos Rodolfo de Brito, de 42 anos.
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Torcedor do Basquete São José emociona com história de superação e amor pelo time
Marquinhos, como é mais conhecido, fica posicionado à beira da quadra em dias de jogos. Um lugar estratégico, onde pode sentir o calor da partida e da torcida ao mesmo tempo. Ali ele vibra, passa por momentos de apreensão, grita, canta... É mais um torcedor apaixonado no meio de tantos. Mas há um detalhe: Marquinhos é deficiente visual. Tem apenas 25% da visão nos dois olhos. Por isso, se a vista só lhe apresenta vultos, ele usa os outros sentidos para acompanhar a partida. Marquinhos é apaixonado pelo time e se deixa ser guiado pela emoção.
Eu já gostava de basquete, mas quando comecei a vir no ginásio, passei a gostar mesmo, sentir aquela paixão pelo basquete.
– Não estou vendo a bola cair na cesta. Não sei se é de três pontos, de dois pontos, se o jogador foi derrubado, se foi falta... Não consigo ver a quadra, o jogador lá dentro. Então, eu vou pelo som da torcida. Quando cai a bola na cesta, ela (torcida) grita. Eu vou no embalo da torcida. Se a bola é de três, sei que a vibração é maior. Para mim, é desse jeito. Eu não fico perguntado o placar. Quando a torcida canta “vamos virar, Águia”, sei que o São José está atrás do placar. Quando ela está cantando bastante, é porque estamos na frente – destacou.
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Marcos Rodolfo de Brito fica bem próximo à quadra e acompanha o jogo pela vibração da torcida — Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com
A deficiência visual é causada por uma distrofia na retina nos dois olhos. Marquinhos tem a deficiência desde que nasceu e enxerga apenas 25% em cada olho. Reconhece apenas vultos e a claridade. Consegue enxergar detalhes quando coloca o objeto muito próximo ao rosto, como a tela do celular. O smartphone, aliás, conta com aplicativos de comando de voz que o ajudam a utilizar o aparelho, como tirar fotos e fazer ligações.
Marquinhos procura levar uma vida como se enxergasse com nitidez. Por exemplo, mora sozinho desde que a mãe faleceu, há três anos, e acompanha as redes sociais por meio dos comandos de voz e colocando a tela do celular bem próximo ao rosto. A ida aos jogos é mais uma prova disso. Vai ao ginásio Linneu de Moura sozinho no transporte público e, com a ajuda do bastão que serve de guia, chega até o lugar cativo na arquibancada.
– É tudo sozinho. O deficiente não pode só ficar dependendo de alguém. Se a gente for depender, a gente não faz nada. Eu prefiro ser independente. Todo jogo estou aqui, já virou rotina. Faça chuva ou faça sol, estou aqui. Na hora do jogo, é importante o locutor falar quando saiu o ponto do adversário e do time da casa. Isso está acontecendo agora, antes não era assim. Pelo menos assim consigo saber quando saiu o ponto – disse.
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Marcos Rodolfo de Brito vai sozinho aos jogos do São José Basketball — Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com
Torcedor fiel e caravaneiro
Um dos cantos que ecoam no Caldeirão Linneu de Moura é: "São José, São José. Nada vai nos separar. Somos todos, seus seguidores. Para sempre vou te amar". Podemos dizer que Marquinhos segue o canto ao pé da letra. Nada o separa da equipe joseense, de quem é um fiel seguidor. Começou acompanhar a equipe em 2010, após a conquista do título paulista no ano anterior, e, desde então, não parou mais.
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Marcos Rodolfo de Brito participa de caravanas para assistir ao time; na foto, está no ginásio do Pinheiros, em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal/Marcos Rodolfo de Brito
Em 2013, passou a fazer parte de uma das duas torcidas organizadas do time. Com o grupo de torcedores, assiste aos jogos não apenas no Linneu de Moura como também participa das caravanas para outras cidades.
– Tenho que ter apoio da torcida (para participar das caravanas) Se ninguém me ajudar, não vou mais. O primeiro jogo que fui, foi em Mogi. Com o apoio de um e de outro, consegui entrar no ginásio e ir embora depois. Eles me ajudam muito. Considero a torcida uma família para mim – ressaltou.
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Marquinhos ao lado do torcedor Vagner da Rocha Fausto — Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com
O presidente da torcida Pânico, Vagner da Rocha Fausto, ressalta a importância de ter Marquinhos no meio da torcida.
– A torcida já adotou ele. Em viagens fora, todo mundo fica preocupado em auxiliar ele. Para nós, é uma lição de vida. Ele acaba enxergando mais que a gente no jogo ainda. É uma emoção muito grande ele estar com a gente, participando com a gente. Fazemos questão dele estar junto conosco. Ele acaba trazendo uma coisa muito especial para nós. Ele nos faz enxergar muito mais além – ressaltou.
Encontro com o ídolo
Marquinhos acompanha futebol e tem ídolos no gramado. Mas o basquete, tradicional em São José dos Campos, ganhou um espaço no coração dele no início desta década. A geração do quinteto titular Fúlvio, Laws, Dedé, Jefferson e Murilo Becker ficou marcada na cidade, principalmente, pela chegada à final do NBB em 2012. A atmosfera do ginásio, aliada à boa fase do time, fizeram dele um torcedor apaixonado.
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Murilo Becker, Dedé, Fúlvio, Jefferson e Laws - quinteto do São José Basketball na temporada 2011/2012 — Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com
Nas últimas duas temporadas, o time adulto joseense foi desativado por falta de dinheiro. Um baque e tanto para Marquinhos, que no mesma época perdeu a mãe e passou a morar sozinho. Quando em 2018 o São José voltou à ativa, o retorno foi bastante comemorado por ele. Nesta temporada, os joseenses voltaram ao NBB e o elenco tem um ídolo de Marquinhos: o ala Dedé, que fez parte da equipe vice-campeã do nacional em 2012.
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Dedé é ídolo do torcedor Marcos Rodolfo — Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com
Nessa segunda-feira, 4, o São José Basketball enfrentou o Pinheiros no ginásio Linneu de Moura, pelo NBB. Dedé estava em quadra, e Marquinhos no seu lugar cativo na arquibancada. Os joseenses foram derrotados por 83 a 67 e, após a partida, Marquinhos entrou em quadra à convite da reportagem. Sem saber, foi levado até ao ala Dedé. Quando encontrou o jogador, não escondeu a emoção com o abraço recebido e o bate-papo.
A foto que ele não tinha com Dedé, tratou de tirar na hora. Pegou o celular e, tremendo de emoção, teve dificuldades para desbloquear a tela. Pela comando de voz, disse: "tire uma selfie". Pronto. Registro gravado. Dedé, que sorriu para a foto, continuou com o sorriso no rosto para explicar o sentimento em receber o carinho de Marquinhos.
– É um sentimento que só o esporte proporciona para nós. A gente tem dias de treinamento, uma rotina de sábado, domingo... Então, acaba que às vezes não temos noção dos frutos de tudo que a gente faz. Isso faz tudo valer a pena. Às vezes, saímos chateados pelo jogo ruim que fizemos hoje, muito mérito do outro time, mas encontrar ele nos dá força para voltar amanhã, treinar mais e cada vez tentar dar mais alegrias para todo mundo – destacou Dedé.
* Colaboraram Arthur Costa e Eduardo Marcondes
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Dedé e Marquinhos após jogo do São José Basketball — Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com
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